APRENDA A RECUPERAR ALTO-FALANTES
|Veja como começar a construir uma caixa acústica.
1. Ensinar ao nosso visitante a maneira mais fácil de recuperar alto-falantes.
2. Objetivo: Este procedimento tem como objetivo mostrar como foi o processo de reparo de um alto-falante que teve o seu conjunto magnético descolado por impacto físico. As técnicas utilizadas foram fornecidas por Edu Silva, moderador da lista de discussão sobre áudio, a AudioList. Este procedimento assume familiaridade do leitor com relação às partes que compõem um alto-falante.
3. O que este documento aborda: − Desmontagem de partes do alto-falante; − Colagem do conjunto magnético; − Centralização do conjunto magnético durante o processo de colagem; − Remontagem das partes desmontadas; − Centralização e alinhamento destas partes, durante o processo de colagem.
4. O que este documento não aborda: − Separação das seguintes partes: suspensão-cone; aranha-cone, bobinacone; − Substituição ou colagem dos conjuntos acima citados; − Acerto da altura da bobina com relação ao ‘gap’ do alto-falante.
5. Material necessário:
− Adesivo de contato (recomendados: Brascola Brascoplast e 3M EC-847);
− Fita adesiva;
− Tiras plásticas (detalhes adiante);
− Negativos fotográficos ou chapas de radiografia não mais em uso;
− Araldite 24h (Profissional);
− Faca (sem serrilha) ou Estilete;
− Solventes (Acetona, Querosene).
6. Histórico: O alto-falante recuperado é um Woofer de 10 polegadas presente na caixa acústica Master 67 da Gradiente. Este woofer possui cone de papel branco, suspensão de tecido e foi fabricado na década de 80.
A caixa acústica onde este woofer estava sofreu um choque físico considerável durante o seu transporte, o que ocasionou o descolamento de parte do conjunto magnético do alto-falante. O restante do mesmo estava em perfeitas condições: cones, suspensão, centragem, carcaça, calota e outras partes estavam sem avarias. A Figura 1 mostra como foi encontrado o alto-falante. Perceba como parte do conjunto magnético (o anel superior) ainda permanece preso ao altofalante, enquanto que o restante encontra-se separado (peça polar, imã propriamente dito e o anel inferior). Note também como a bobina permanece exposta, veja um detalhamento maior na Figura 2.
Figura 1: Woofer com o conjunto magnético descolado.
Figura 2: Detalhe do anel superior e bobina.
Neste caso, a tarefa de remontagem do conjunto magnético não se resume a simplesmente tentar recolocar a parte magnética no seu lugar porque:
a. É bem possível que ocorram avarias na bobina devido à forte e brusca atração magnética entre imã e anel superior quando aproximarmos ambas as partes;
b. Também devido à atração magnética entre o anel superior e à peça polar, será impossível manter o gap onde a bobina fica alojada. Este gap geralmente é bem estreito (neste falante ele tinha 1.5 mm) e deve ser minuciosamente centrado, para que a bobina não raspe nas paredes do mesmo durante o funcionamento do alto-falante.
7. Procedimento:
Uma vez entendido todo o problema, foi necessário traçar uma estratégia para o conserto. Nesta seção será detalhado o procedimento utilizado para o reparo. Basicamente, ele consistiu em: desmontar o alto-falante (partes móveis apenas), colar o conjunto magnético e, por último, remontar as partes.
7.1. Desmontagem do conjunto móvel:
Uma ferramenta improvisada pode ajudar. No caso, foi feita uma com um garfo de pontas finas e entortadas com o auxílio de um alicate de bico, conforme mostrado na Figura 4. Esta ferramenta foi criada, no caso aqui discutido, para descolar a aranha da carcaça, como veremos a seguir, mas ela serve perfeitamente para este passo. Você pode usar esta ferramenta como uma mini espátula, passando por entre a suspensão e cone, sempre com muita calma pois um movimento em falso pode estragar a suspensão ou o cone.
Ao perceber que a centragem está pronta para descolar, pode-se usar a ferramenta improvisada mencionada no passo anterior (veja Figura 4). Do mesmo modo, usá-la como uma espátula, verificando se é possível iniciar a descolagem, ainda que em um pequeno setor, onde será suficiente para se encaixar a ferramenta. Isso tornará o resto da descolagem muito mais fácil pelas mesmas razões citadas no passo anterior. Pode-se adicionar mais solvente caso a cola ainda não tenha amolecido plenamente. A Figura 5 ilustra o processo descrito anteriormente. Notar como a centragem ainda não está totalmente solta na parte da esquerda e será necessário passar a ferramenta ali por baixo para terminar o processo. Mais do que nunca, é preciso muito cuidado neste passo para não danificar o cone nem a centragem. O processo é mesmo um pouco demorado e o importante é não fazer com pressa.Figura 5: Detalhe da descolagem da centragem.
Após terminar, o próximo passo é soltar as cordoalhas vindas da bobina. Para isso, simplesmente use um ferro de solda. Caso julgar necessário, tomar nota da polaridade da ligação, de modo a não soldar nada invertido no momento de remontar, o quer fará com que o falante funcione ao contrário, o que não é bom.
Concluído este passo, o conjunto móvel está pronto para ser removido. Com cuidado para não amassar nada e verificando se não resta algo restringindo, puxar todo o conjunto. O resultado deve ser o ilustrado na Figura 6: cone, suspensão, centragem e bobina saíram todos juntos. Com isso, está concluída esta etapa do processo de restauração. A parte mais delicada já passou
Figura 6: Conjunto móvel sendo separado do resto do alto-falante.
7.2. Colagem do conjunto magnético
Nesta etapa, o conjunto magnético será reparado através de uma nova colagem. É nesta etapa que será utilizado o Araldite 24h, a fita adesiva, a tira de plástico grosso e a faca.
Primeiro passo – Preparando a superfície:
Antes de colar o conjunto magnético, é necessário efetuar a limpeza das superfícies a serem coladas, pois este é o segredo para uma boa colagem. Utilizando a faca ou estilete, remover qualquer resto da cola antiga ainda presente nas partes. Tomar cuidado para não arranhar o metal nem estragar o imã nem se machucar porque os restos podem estar muito bem aderidos, como foi o caso deste alto-falante.
Em seguida, pode-se utilizar querosene para remover quaisquer resíduos menores de cola que possam ainda ter permanecido. Utilizar um pano que não solte fiapos, pois é muito importante que o gap fique limpo para receber a bobina. Resistir à tentação de utilizar palha de aço, pelo menos na parte que contém a peça magnética. Isso serve para evitar que inúmeras limalhas da palha fiquem grudadas ao imã em regiões de difícil acesso (gap).
Ao terminar, lavar tudo com água e detergente, enxaguando e secando muito bem. É importante deixar as peças bem secas. O resultado deve ser o ilustrado na Figura 8. Comparar com a Figura 7 que mostra o conjunto magnético antes de sofrer a preparação.
Figura 7: Imã e anel superior ainda com resíduos de cola.
Figura 8: Partes magnéticas limpas, secas e prontas para colagem.
Segundo passo – confecção da guia de centragem:
Antes de partir para a colagem, é importante improvisar uma peça plástica que permitirá colar as peças do conjunto magnético e ainda manter um gap uniforme e perfeitamente centrado ao redor da peça polar. Isso é de extrema importância para que a bobina não raspe nas paredes do gap durante o funcionamento to alto-falante.
Tentar fazer este alinhamento manualmente e “a olho” é praticamente impossível. O ideal seria que fosse feita a desmagnetização do imã para que se pudesse trabalhar com mais calma e precisão, mas isso é inviável para a maioria das pessoas que não dispõem de equipamento especializado e caro.
A peça consiste em um anel feito a partir de um pedaço retangular de plástico grosso e unido por fita adesiva em forma de um anel. A espessura do plástico deve ser aproximadamente igual a do gap de modo a preenchê-lo totalmente. A Figura 9 mostra esquematicamente a idéia. Notar que foram omitidas certas partes do alto-falante para maior clareza.
Este plástico pode ser conseguido a partir de embalagens plásticas usadas. É preciso ser criativo e curioso para encontrar uma que sirva. Também é possível utilizar diversos plásticos mais finos, enrolando-os diversas vezes até completar a espessura desejada.
Onde:
Danel : Diâmetro do furo do anel superior
Dpolar : Diâmetro da peça polar do imã
Egap : Espessura do gapA tira deve ser cortada com uma tesoura ou serra (dependendo da espessura do plástico). Não é necessário extrair um anel contínuo, recortar uma tira (retangular) de comprimento suficiente para envolver a peça polar de forma justa (não deve haver folgas). Acertar o comprimento fazendo-se testes na peça polar e cortando o excesso com uma tesoura É importante que não haja sobreposição e é até aceitável que falte um pouquinho. Uma vez acertado o comprimento, basta apenas emendar as duas pontas da tira com fita adesiva (que também pode ter o papel de completar a espessura, se o plástico não for suficiente). Prestar atenção na altura do anel resultante, assegurar que ela seja suficiente para a extração do anel após a colagem estar concluída, senão a peça ficará presa no interior do gap.
É possível efetuar alguns testes antes de passar para a colagem final. Verificar se o anel não encaixa de forma demasiadamente justa ou com folgas. Verificar também se é possível efetuar o encaixe perfeito das peças magnéticas. Antes de posicionar o anel para a colagem, convém passar um pouco de óleo, de modo a auxiliar a extração. A Figura 10 mostra como fica o anel encaixado no imã.
Aguardar 24 horas até que a cola seque completamente e só aí passar para a retirada do anel plástico. Um alicate de bico pode ajudar se a remoção manual estiver um tanto difícil. Se tudo correu bem, o que se terá é um conjunto magnético firmemente colado e o gap concêntrico com relação à peça polar conforme mostra a Figura 14 .
Figura 14: Anel plástico retirado e gap centrado.
7.3. Remontagem das partes móveis
Esta é a última etapa. Agora o trabalho é de apenas remontar tudo que se desmontou. O grau de dificuldade desta etapa é menor que a anterior mas ainda requer atenção, principalmente no momento de alinhamento da bobina no gap.
Primeiro passo: Limpeza da carcaça e preparação das partes móveis para colagem.
Antes de colar as partes móveis, é necessário, mais uma vez, preparar as superfícies para receber o adesivo de contato é necessário remover os restos de cola que ainda permanecem aderidos. Isso garante que a nova cola não vai ter sua performance prejudicada por resíduos sobre a superfície da carcaça do altofalante.
Para limpar é muito simples, basta utilizar o mesmo solvente empregado no descolamento (primeira etapa) e um pano. Se estiver muito difícil de remover, tente usar palha de aço, tendo muito cuidado para não estragar o tratamento do metal. Deixar um pouco de solvente agir sobre a cola ajuda bastante. Secar muito bem ao final do processo. O resultado pode ser acompanhado na Figura 13, notar como as bordas onde vão coladas a suspensão e a centragem estão limpas (as manchas que aparecem em alguns pontos são próprias do metal da carcaça e não puderam ser removidas).
Um local que pode merecer um pouco de limpeza (dependendo do caso) é a borda da centragem, que ainda pode conter muitos resíduos da cola antiga. Para remover é necessário um pouco de paciência e jeito: umedecer com solvente e deixar agir, esfregando com os dedos até fazer umas “bolinhas” com a cola antiga. Remover estas “bolinhas” pouco a pouco. Infelizmente a limpeza perfeita pode ser muito trabalhosa e não compensar, deixar um pouco de resíduo no tecido da centragem não é tão prejudicial assim. Segundo passo: Centragem da bobina no gap.
Assim como a peça polar foi cuidadosamente colada para que ficasse centrada e não prejudicasse o funcionamento do alto-falante, a bobina deve estar perfeitamente centrada no estreito gap também. Simplesmente colar todo o conjunto móvel à carcaça do alto-falante (a olho) resultaria em um alinhamento insatisfatório e possivelmente faria com que a bobina raspasse nas paredes do gap durante o seu funcionamento.
Por isso, mais uma vez, é necessário utilizar a técnica de centragem utilizando, desta vez, um anel feito de um material de espessura adequada, só que desta vez ele será colocado entre a peça polar e a parte interna da bobina. A colocação será feita pela frente do cone.
Para acessar a parte interna da bobina, é necessário remover a calota (ou guarda-pó) que é a peça colada na parte central do cone.
A menos que a calota esteja muito mal colada, é muito difícil removê-la sem ter que cortá-la com um estilete. Aqui, não é recomendável utilizar solventes nem força física, sob pena de danificar o cone. Esta é uma tarefa MUITO delicada porque é muito fácil furar acidentalmente o cone durante a sua extração.
A recomendação é que se use um estilete bem afiado, não cortando muito rente à junção calota-cone pois a probabilidade de estragos é maior. A lâmina não deve entrar na vertical e sim um pouco inclinada, acompanhando-se a inclinação da parede do cone da melhor forma possível. Ainda, deve-se prestar muita atenção para não danificar a cordoalha da bobina, que passa por debaixo da calota, colada sobre a superfície do cone. MUITO CUIDADO é necessário nesta tarefa, deve-se ter paciência e calma para não estragar nada. Verifique o resultado na Figura 15. Extraído o cone, é possível passar para o preparo da centragem da bobina no gap. Observar que é preciso efetuar uma preparação antes de se efetuar a colagem realmente. Isso assegura que o processo de centragem será bem feito, no momento de colar suspensão e aranha (centragem) de volta à carcaça.
Para efetuar a centragem basta conseguir alguns negativos fotográficos ou chapas de radiografia. Ambos servem muito bem para esta tarefa.
Colocar o conjunto móvel (cone+bobina+centragem – peça única) de volta na carcaça, como se fosse remontá-lo ao alto-falante (logicamente sem colar nada ainda): encaixar a bobina no gap, a centragem em seu lugar e a suspensão também.
Figura 17: Adesivo de contato utilizado.
Através dos passos anteriores desta etapa, foram efetuadas todas as preparações para a colagem final do conjunto móvel à carcaça. Basicamente as tarefas daqui em diante resumem-se a colar, não oferecendo grandes dificuldades. Primeiramente, espalhar um pouco de cola sobre a região da carcaça onde a centragem vai ser colada. Cuidado para não passar muita cola pois o excesso transbordará para partes mais internas da carcaça, o que não é recomendável. Seguir as instruções do fabricante da cola. Geralmente, estes tipos de adesivos requerem que se aguarde um tempo para que o solvente em sua composição evapore. Feito isso, insira o conjunto móvel e repita todo o processo de centragem, da mesma forma como a preparação efetuada no passo anterior. Somente quando a centralização da bobina tiver sido feita é que se deve pressionar a centragem à carcaça para consolidar a colagem. Veja o resultado na Figura 18. De forma análoga, proceder à colagem da suspensão na carcaça. Espalhar o adesivo, aguardar alguns minutos e efetuar a colagem pressionando bem a suspensão à carcaça para consolidar a colagem. Pode ser necessário fazer uso de algum tipo de grampo para segurar as partes enquanto elas colam.
Figura 18: Centragem colada à carcaça.
O processo de colagem geralmente dura 24 horas. Não remover as tiras antes deste processo estar completado. Paralelamente, soldar a cordoalha de volta aos terminais do alto-falante observando a polaridade correta.
Não colocar a calota de volta ainda pois é necessário realizar o teste de performance para avaliação dos resultados.
Quarto passo: Avaliação da qualidade da centragem e testes.
Findado o processo de colagem da suspensão e centragem, é o momento para fazer a avaliação de todo o trabalho efetuado e verificar se o alto-falante está funcionando corretamente.
A primeira coisa a fazer é remover as tiras plásticas empregadas no passo anterior. Para isso, segurar o cone com uma das mãos e ir puxando as tiras calmamente, uma a uma.
O primeiro teste a ser feito é o de qualidade da centragem. O teste é muito simples, basta pressionar o cone suavemente com as mãos, fazendo pressão de forma simétrica ao redor do centro (usar, por exemplo, 2 dedos de cada mão). Prestar atenção e verificar se o cone excursiona corretamente, sem raspar em nada (usar o ouvido é uma boa dica). Repetir este processo algumas vezes, sempre não exagerando na excursão para não danificar nada. Se não ouvir ou sentir nada de errado, parabéns ! Se perceber algo de errado (bobina raspando, excursão irregular e etc.) analisar, localizar o problema e partir para o reparo (descolar e repetir algumas etapas, se necessário).
O segundo teste é o tão aguardado: o teste de funcionamento. Para isso, montar o alto falante na caixa, ligando-o eletricamente e iniciar a reprodução musical a baixo volume. Ligar somente a caixa com o alto-falante que foi reparado ajuda muito nas avaliações. Verificar o funcionamento (excursão, tentar sentir algum cheiro de queimado, verificar se bobina não está raspando, etc.). Deixar em funcionando por alguns minutos, sempre em observação. Se estiver tudo em ordem, é possível aumentar o volume gradativamente, sem exagerar e aí iniciar a avaliação em potências mais elevadas. Em caso de sucesso, completar o reparo recolocando a calota. Para isso, usar o adesivo de contato e tomar cuidado para não derramar cola no gap. A Figura 19 mostra o alto-falante terminado. Ele passou em todos os testes na primeira vez, atestando a boa qualidade do reparo. Aos poucos, o som reproduzido pareceu melhorar, por conta, provavelmente, de alguma acomodação mecânica das partes coladas.
Figura 19: Reparo concluído: alto-falante passou em todos os testes.
8. Conclusões: Através de um processo relativamente barato (dominado pelos custos das colas), foi possível reparar um alto-falante que teve seu conjunto magnético descolado, mantendo-se todas as peças originais. O processo requer paciência e cuidado mas mostra-se realmente eficaz para a recuperação dos alto-falantes.
Muitas das etapas aqui ilustradas podem ser aplicadas e auxiliam em outros tipos de reparos efetuados sobre alto-falantes como, por exemplo, troca de cone danificado, suspensão estragada e assim por diante.
Este guia está longe de ser um manual completo para o reparo de altofalantes mas procura prover informações e técnicas que servem como base para outros consertos mais ou menos complexos.