Como montar e para que serve uma medusa
|E apesar de “medusa” ser um termo que remete a um “bicho de sete-cabeças”, elas são incrivelmente simples de montar, precisando apenas de uma pessoa bastante habilidosa com solda.
Lembrando que, no Brasil, o termo comumente chamado para o conjunto de um multicabo, a caixa de conectores (conhecida como “banheira”) e os conectores é “medusa”. Nos EUA, o termo usado é “Snake” (cobra).
Em sonorização de grande porte (32, 48 ou até mais canais), é comum haver uma medusa bem grande (com tantos canais quanto a mesa de som), e a ela se conectam outras menores, como uma medusa de 8 canais para a bateria, por exemplo. Nesse caso, essas medusas menores são conhecidas como “subsnakes”.
Termos à parte, vamos aprender como montar uma medusa, snake, multicabo ou seja lá o que for.
Material necessário:
– tantos metros de multicabo (depende do tamanho desejado) com tantas vias quanto desejadas
– conectores P10 estéreo ou XLR machos (para os rabichos a serem ligados na mesa de som).
– jacks P10 estéreo ou jacks XLR fêmeas de painal para banheira
– uma banheira – a caixa de ferro onde se ficam os jacks,
– um alicate rebitador e tantos rebites quanto necessários
– fio e ferro de solda de ponta bem fina (30W no máximo).
– alicate de corte, de bico e universal
– estilete.
– um multímetro
– alguns metros de espaguete termo retrátil.
– abraçadeiras plásticas
– anilhas de numeração (ou “numeradores anulares”)
– um soprador térmico (mesmo que “aquecedor serigráfico”).
– tempo, bastante tempo.
Vejamos alguns destes equipamentos em separado Multicabo
Existem multicabos de 2 a 66 vias (nada impede um fabricante lançar algum modelo mais vias ainda). Há várias marcas no mercado, alguns já “espaguetados” ou não. O custo é o seguinte: aproximadamente: (R$ 1,00 por via + R$ 5,00, para cada metro). Ou seja: um multicabo de 20 vias custará: 1,00 x 20 + 5,00 = R$ 25,00/metro. Sim, 25 reais cada metro, e você precisará de vários metros… Não é à toa que medusas são tão caras. Mas pense no benefício de poder colocar o som na melhor posição para se poder ouvir perfeitamente o som do local… isso não tem preço.
Quanto a marcas do multicabo, em geral todas as marcas são boas. Como somente profissionais montam medusas, fabricantes ruins seriam rapidamente descartados.
Compre o número de vias que você precisar. Se você precisar de 21 vias e só encontrar multicabos de 20 ou de 24 vias, a saída é escolher uma dessas opções. Em geral, é melhor comprar com folga de vias, pois no futuro se você precisar expandir seu sistema, terá condições de aproveitar o mesmo multicabo.
Cada via é um sistema balanceado completo. Há positivo, negativo e malha de terra. A malha não é enrolada em volta dos outros, como em um cabo coaxial, mas sim um fio separado, sem isolante (desencapado). A proteção contra interferências eletromagnéticas é dada não pela malha, mas por um papel alumínio que envolve todo o fio. Esse papel alumínio envolve os três condutores (e está em contato diretamente com o fio de malha) internamente, mas esse papel é coberto por um filme plástico (em geral azul) externamente, garantindo que não haja contato com as outras vias. O sistema é um pouco complicado de explicar mas muito interessante e bem pensado. Não há o menor risco de uma via interferir no sinal do outro, e mesmo multicabos de grande comprimento são praticamente imunes à ruídos.
Esse tipo de blindagem (o papel alumínio) garante uma ótima rejeição a ruídos externos, já que a cobertura de área dos fios internos é de 100%. Mas tem a desvantagem de, uma vez aberto o multicabo, a blindagem se desenrola facilmente. Esses são os multicabos não espaguetados.
Para resolver esse problema, existem multicabos espaguetados, que tem uma capa de borracha envolvendo cada via, isolando-as completamente da outra. Multicabos espaguetados são mais grossos, mais resistentes e mais caros que os equivalentes não espaguetados. A escolha fica a cargo do cliente, mas saiba que os espaguetes podem ser comprados avulsos e custam bem barato.
Cada via tem dois fios com isolantes de borracha coloridos e um fio sem isolante (a malha). Para diferenciar as vias, são usadas cores sortidas para esses isolantes. Se houver uma via com fios com isolante preto e outro amarelo, então não haverá nenhuma outra via com essas mesmas cores, mas poderá haver uma via com isolante preto e outro vermelho e alguma via com isolante amarelo e outro azul. Multicabos espaguetados são bem mais simples: todos os fios tem isolantes de mesma cor, mas no espaguete de cada via vem escrito o seu número, único.
Uma dúvida bastante comum em quem monta pela primeira vez uma medusa é com a ordem das cores dos fios em cada via. Na verdade, não há ordem alguma, mas os fios precisam ser soldados exatamente na mesma posição tanto de um lado quanto a outra, respeitando-se sempre que a malha é o aterramento.
No caso acima, onde temos fios com isolante preto e outro amarelo, tanto o fio preto pode ser negativo (pino 3 em conectores XLR, “R” em P10 TRS) quanto positivo (pino 2,T), mas é obrigatório fazer igual dos dois lados. Já a malha (fio sem capa) será obrigatoriamente sempre o terra (1,S).
Conectores
Exatamente pelo fato de existirem três vias, é praticamente obrigatório o uso de conectores também balanceados, XLR e P10 TRS (P10 estéreo). Algumas pessoas montam com conectores P10 mono, e perdem a proteção do sistema balanceado. Uma pena.
Em geral, os plugues machos ficam no lado da mesa de som e os plugues fêmeas (jacks) ficam na banheira. Nada impede, em uma medusa, haver alguns plugues invertidos, de forma a enviar e receber sinais ao mesmo tempo. Não há problema algum.
Para quem precisa ora de jacks P10 ora jacks XLR, a Neutrik fabrica um plugue Combo, que aceita tanto XLR ou P10 (um de cada vez, claro). São muito caros, mas podem ser uma boa alternativa. Os jacks são presos na banheira através de rebites, para dar firmeza. Por isso é necessário um alicate rebitador e rebites do diâmetro correto. É possível usar parafusos e porcas, mas com o tempo o sistema afrouxa e não compensa.
Banheiras
A banheira é a caixa metálica (ou mesmo de plástico) onde ficam os jacks. A banheira pode ter vários nomes: banheira, caixa de palco, “stage-box”. Elas existem em vários tamanhos e quantidades de vias, e em geral tem furação apropriada para conectores XLR de painel, sendo que é necessário um adaptador para reduzir o diâmetro se plugue a ser utilizado for o P10. Esse adaptador pode ser encontrado em qualquer loja que venda as banheiras.
Pesquise bem quanto às banheiras. Existem diversos fabricantes, e os preços variam muito. Já vi caso de uma de 12 vias custar 50,00 de um fabricante e de outra marca custar 150,00. Como banheiras são caras, algumas pessoas montam com caixas plásticas. Se o multicabo for para uma instalação fixa, protegidas de água e luz do sol, onde os fios costumeiramente ficarão conectados, será uma boa idéia. Existem caixas plásticas que podem ser encontradas em casas de material elétricos que são muito boas e baratas. Já para quem precisa de uma medusa para aguentar estrada (cada dia em um lugar diferente), a caixa tem que ser de ferro, bem resistente mesmo, não tem jeito.
“Banheira” plástica. Uma interessante solução que usamos no Anfiteatro para receber e/ou enviar sinais entre vários lugares. A peça fica devidamente protegida do sol e é fixa na parede. Note que cada via (na verdade, não é um multicabo, mas sim 6 cabos) termina em 3 conectores, em paralelo entre si. Assim, pode-se enviar dois sinais ou receber dois sinais para cada lugar ou enviar um e receber outro sinal, e com qualquer tipo de conector. O custo foi irrisório, e trouxe grande benefício ao trabalho.
Nem sempre a banheira tem o número de vias correspondentes no multicabo. Mesma regra: compre menor ou maior, mas é melhor comprar maior.
Banheira de 12 canais em um multicabo de 19 vias. Note que a banheira está com alguns furos, que irão receber 6 jacks P10, sobrando uma via do multicabo sem usar. A solução foi boa e econômica, pois custou 50% menos que uma banheira de 20 vias. Bom para quem precisa usar conectores XLR e P10.
As banheiras vem com (pelo menos deveriam vir) prensa-cabo e uma mola. É uma peça que firma o cabo na banheira. Se fizermos força puxando o cabo, a força será no prensa-cabo, e não nas soldas.
Espaguete Termo-Retrátil.
Nada mais é que uma capa de borracha, um isolante. Você passa a via por dentro dela. Ao ser submetida a aquecimento, a borracha se contrai e acaba se prendendo à parte interna. Dá um ótimo acabamento.
Para montagens pequenas, na falta de um soprador térmico, uma vela ou um isqueiro resolvem, ou podese usar até o próprio ferro de solda.
O espaguete pode ser comprado em casas de material elétrico ou mesmo em eletrônicas. Ao escolher o diâmetro, lembre-se que ele encolhe até metade do seu diâmetro original. Um espaguete muito largo acaba ficando com folga e não protege nada. Em geral, usa-se espaguete de 32mm.
Passos para a montagem
Prenda os conectores de painel na banheira, através dos rebites.
Passe o multicabo, já descascado, pela mola, pelo prensa-cabo e finalmente para dentro da banheira.
Desenrole as vias e procure seguir a ordem natural de contorno. Tente evitar que as vias fiquem atravessadas.
Proteja cada via através do espaguete (caso o multicabo não seja espaguetado) e passe o soprador térmico. Em medusas que ficam fixas, no mesmo lugar, pode-se até mesmo deixar as vias da parte interna da banheira sem espaguete. Mas pelo menos prenda a blindagem com fita isolante, para evitar que a mesma se solte com o tempo.
Esta banheira foi montada sem espaguete. Não há problemas de curto, pois o plástico (azul) é isolante. Note que alguns conectores são P10, outros são XLR. Essa medusa é fixa na parede.
Já essa medusa foi montada com espaguete e abraçadeiras. Um serviço muito melhor.
Tente dar uma “arrumada na parte interna”. Deixe cada cabo com o tamanho suficiente para chegar até o seu respectivo conector. Tente unir as vias que chegam na mesma fileira de conectores com abraçadeiras plásticas. Quanto melhor “arrumado”, mais resistente ficará.
O resultado do espaguete e das abraçadeiras é uma medusa absolutamente profissional, prontíssima para aguentar as estradas brasileiras.
Solde com muito cuidado. O ferro de solda deverá ser de no máximo 30W, pois ferros muito quentes derretem a fina capa plástica dos cabos. Além de fazer uma boa solda, é imprescindível anotar o que está sendo feito. Exemplo: Via preto/amarelo: preto no pino 2, amarelo no pino 3, terra no pino 1. Isso será necessário para fazer a outra ponta.
Terminado, verifique todas as soldas. Se houver buracos vazios (banheira com mais vias que o multicabo), podem ser usados tampas cegas, vendidas no mesmo lugar que as banheiras.
Tudo pronto, pode fechar a banheira.
Medusa pronta, já fixada na parede. Note, do lado esquerdo, um papel indicando quais os canais correspondentes para cada grupo de vozes (a instalação é fixa).
Na outra ponta, descasque o multicabo o tamanho suficiente para cobrir a largura toda da mesa de som. Vá descascando aos poucos, e testando para ver se é suficiente.
Ao descarcar o multicabo no tamanho ideal, o passo agora é colocar o espaguete (se o cabo não for espaguetado) em cada uma das vias. Passe o soprador térmico para o espaguete “grudar” no cabo.
Descasque a ponta de cada via. Identifique, pelas cores da via, o conector correspondente na banheira.Passe uma anilha numerada para a correspondente identificação. Isso identificará corretamente cada via.
Solde os conectores macho XLR ou P10 estéreo na ponta do cabo.
Tudo feito, só falta uma coisa: confira tudo através do multímetro ou um testador de cabos. Deve havercontinuidade entre cada fio de cada via, tanto no plugue macho quanto no jack fêmea. 2 com 2, 3 com 3,1 com 1. Qualquer inversão e falha deve ser corrigida. E depois disso teste cada via individualmente com o uso de sinal de áudio real.
Não é difícil, mas precisa ter muita paciência, tranquilidade e habilidade com a solda. É serviço que émelhor feito em dois, pois leva horas e cansa bastante. Mas o resultado é ótimo!